quinta-feira, 31 de julho de 2008

smooth

dos espinhos desta rosa,
só quero ver meu sangue.
tão vermelho quanto a flor,
tão doce quanto esse pudor.

tiro pétala por pétala,
quero ver o que se esconde.
vou delicadamente despindo
essa flor, sempre sorrindo.

não sei acreditar
no que meus olhos vêem.
não sei se quero mais continuar,
a curiosidade só sabe amedrontar,
mas meus dedos já fugiram de mim.
vou até o fim.

o odor que se liberta,
as cores que se soltam,
o sabor que me controla,
o prazer que ultrapassa o saber.

mas então me deparo com o pior:
ao fim desta roseira,
há muitas outras,
maiores e mais amedrontadoras.

a coragem necessária,
só em um lugar pode ser encontrada,
e eu fico feliz por possuí-la.
ela só existe no coração dos homens que a mereçam.

a emoção do viver

um tênis largado no canto da sala
te avisa que você está atrasado.
a madrugada já foi,
e aí já vem a alvorada.

as coisas que te disseram,
não se diz nem a um cão.
mas você está lá, fiel,
como o melhor amigo do homem.

lhe falta coragem para pensar.
não quer se assustar com pensamentos
que podem acabar antes mesmo de começar.
são seus melhores momentos.

você faz uma oração ao relógio.
ele te ignora, e te provoca.
ao insistir, sente ódio.
não só do relógio, mas de tudo.

você estudou muito para ter esta vida.
e sabe muito bem quanto tempo gastou,
quantas oportunidades desperdiçou,
quantas vezes fraquejou.

chega em casa fraco,
com muita dor de cabeça.
deita na cama e toma remédio.
e o tênis largado já lhe alerta novamente.

e assim continua a saga do homem cotidiano.

mediocritas

que mundo legal seria esse
ninguém desejando ser feliz em excesso,
mas sempre querendo ser simplesmente feliz.
ninguém se sufocando por riquezas,
pois todos só querem ser simplesmente felizes.
ninguém chorando pelos cantos,
a não ser que por amor,
pois isso sim deve-se desejar em excesso.
todos percebendo como a vida realmente boa é medíocre.
medíocre, de médio. ninguém quer tudo e ninguém quer nada.
todos buscando o equilíbrio.

aí você acorda e olha pela janela. e você passa a entender os suicidas.
e você pega suas coisas e vai sufocar. até a morte.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

showbiz

já fui dos que controlam o sentimento
e também dos que se libertam totalmente
já fui dos que são apenas eles mesmos
e também já tentei ser outra pessoa
já fui dos que não desistem nunca
e também dos que já começam perdendo

já fui atrás do que queria
e já esperei que viesse até mim
já forcei o choro para provar algo
e já me provaram algo com o meu choro
já voltei atrás no que sabia ser certo
e já errei sabendo que era errado

já me perdi em palavras por perder a cabeça
e já perdi a cabeça por me perder em palavras
já corri contra o tempo por perder alguém
e já perdi alguém por confiar no tempo
já tentei mudar para obter sucesso
e continuo tentando
mesmo sabendo que não é esse o caminho

?

ninguém sabe de nada?
todo mundo perdeu a razão?
ou será que eu sou tão errado assim?