quarta-feira, 27 de agosto de 2008

depois de tudo que o mundo lhe derramar,
quando cair a última gota
do que quer que seja:
amor, ódio, alegria, respeito ou raiva,
você vai estar ali sozinho.

e vai se culpar por tudo que deu errado,
mesmo sabendo da invejável vida que levou.
vai lutar contra si próprio odiando o que fez
e praguejando o que vai fazer.

ficando sozinho, você se conhece.
é apresentado à você mesmo.
percebe que você tentava se apresentar pros outros,
sem ter a menor idéia de quem você é.
e pela primeira vez você consegue ouvir seu coração batendo,
deixa de ver uma imagem fosca no espelho
e presta mais atenção no que deveria ter sido primordial antes:
aquele precioso segundo.

um segundo que pro resto do mundo durou apenas um segundo.
para os outros, nada valeu.
um segundo descartável, que pra você vale uma vida.
aquele segundo que todos sentem, cedo ou tarde;
explode como uma bomba e deturpa a sua prévia noção do universo
e de tudo que gira em torno dele.
você percebe que você é o seu universo,
e assim você nunca mais estará errado.

o estranho é que agora que você se conhece,
acaba discordando cada vez mais de você mesmo.
não consegue entender como você pode pensar tão diferente de você mesmo
e de todo o resto.
e até esse momento chegar,
sua vida não valia tanto. ela começa agora.
agora o que importa para você, é o equilíbrio do seu universo.
e quem me entende bem sabe que isso é o oposto de egocentrismo.

e você vai brigar mais e mais com você.
e nunca vai adiantar.
não há vencedores.
um olho nunca chora sozinho.

e você sabe então
que ninguém,
ninguém que atravessar o fatídico segundo do auto-descobrimento
morrerá solitário.
e a vida será mais reconfortante.
que me derrame o mundo.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

caubói

chega como quem não quer nada
olhando como se procurasse algo específico
ali!
encontrou.
reencontrou na verdade.
ele está no bar para pedir uma dose dupla, sem gelo,
mas não pede para o garçom.
ele não pede com palavras.
ele sofre de abstinência crônica,
por isso olha para ela,
e com os mesmos olhos do mês passado,
pede, não com piedade nem coragem,
mas com necessidade,
mais uma dose dupla, sem gelo,
daquele amor que só você sabia servir assim.

perdi a conta

hoje me toquei, quando um rapaz me disse que não acredita nessa besteira de amor, que perdi a conta de quantas pessoas já me falaram isso.
porra.
alguém que não tem esperança no amor de outro não devia ficar perambulando por aí atrapalhando os que têm.
separam os fumantes de não fumantes mas deixam os descrentes junto com os crentes.
que mundo perdido.

madrugada

ainda bem que não divulgo esse blog
se divulgasse, teria:
a) vergonha dos meus desabafos de loser
b) falta de empenho para pensar em textos espertinhos
c) a falta de um lugar onde soltar o que eu penso o dia todo, sejam pensamentos burros ou não
d) a cabeça cheia de coisas e ninguém para contar

ufa
uuufa :)

(acende o cigarro)

já sei!

um sábio disse:
"o homem planeja;
deus se diverte"

com esse pensamento, não fez plano nenhum para o fim do dia;
e foi seu dia mais feliz em anos.

com esse pensamento, não fez planos para o dia seguinte;
continuou funcionando

com esse pensamento não fez planos para o resto da semana;
ganhou o emprego

com esse pensamente não fez planos para o mês;
melhor da classe

já sabemos o que queremos;
não precisa ficar repassando.
isso que mata.
será que ninguém vê?

rotina

acorda (ou continua acordado)
sai de casa
fica entediado
entra em casa
fuma
bebe
escreve
desenha
assiste um filme
conversa trivialidades que te irritam
se entedia
fuma
bebe
escreve
desenha
dorme (ou não)
sai de casa
.
.
.
ad infinitum

devaneios xilográficos: não é pra qualquer um.

pois quando é domingo e você durmiu umas 6 horas nos últimos dias, precisa fazer um trabalho demente sobre xilogravura, não tem intenções de dormir por mais algumas 20 horas e fica ouvindo the sonics e velvet underground compulsivamente, você escreve merdas de verdade.

ou você continua escrevendo essas merdas e fica são ou vai dormir e começa a frequentar um psiquiatra.

Xilogravura

Desenhar em madeira.
Com uma faca você quebra as fibras
Com uma goiva você retoca o desenho
E a cada dois minutos você vai quebrar um pedaço indesejado
E vai ver a imperfeição
E assim sabemos que deus nos xilogravou num grande e redondo pedaço de terra

Quando começar, muito cuidado!
Verifique se o estilete está bem afiado.
Você não quer ferir a madeira a toa, ou quer?
Já não faz isso o suficiente durante o dia?

Acontece você vai estragar o seu trabalho mais empenhado e desejado no último traço. Na última raspagem. Na última cavada: zás.
Pode começar tudo de novo. E aquela madeira perfeita a qual você já estava acostumado e considerava ideal vai ter que ser substituída por uma outra misteriosa. Mais cuidado da próxima vez, as madeiras boas sempre são gastas primeiro.

“Desisto, cansei dessa merda”, você pensa.
“Essa é a última”, decide enquanto faz com má vontade e desprezo.
E sai perfeita. Mas você não se orgulha.

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e por aí vão mais vários textos retardados. alguém me ajude, i'm loosing it